terça-feira, 31 de março de 2009

Por vezes


Por vezes parece-me que o tempo não passa ou passa lentamente. Tudo muda, das pequenas às grandes coisas. Parece que tudo me desliza por entre os dedos, como a areia, se apertar um punhado de areia molhada ela parece permanecer na palma da minha mão, mas quando o sol surge com o seu calor ela seca e transformada em pequeníssimos grãos desaparece por entre os meus dedos qual ampulheta.
Ápices, sorrisos, palavras, promessas, jogos, prantos…grãozinhos desliza tudo lentamente. Tudo!!

Fotografia tirada por Lena Almeida

segunda-feira, 30 de março de 2009

Não Sei o que É Conhecer-me


















Não sei o que é conhecer-me. Não vejo para dentro.
Não acredito que eu exista por detrás de mim.

Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
/fotografia tirada por Lena Almeida

sexta-feira, 27 de março de 2009

Balada para uma velhinha















Num banco de jardim uma velhinha
está tão só com a sombrinha
que é o seu pano de fundo.
Num banco de jardim uma velhinha
está sozinha, não há coisa
mais triste neste mundo.
E apenas faz ternura, não faz pena,
não faz dó,
pois tem no rosto um resto de frescura.
Já coseu alpergatas e
bandeiras verdadeiras.
Amargou a pobreza até ao fundo.
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras,
as maneiras
que a fazem estar sentada sobre o mundo.
Neste jardim ela
à trepadeira das canseiras
das rugas onde o tempo
é mais profundo.
Num banco de jardim uma velhinha
nunca mais estará sozinha,
o futuro está com ela,
e abrindo ao sol o negro da
sombrinha poidinha,
o sol vem namorá-la da janela.
Se essa velhinha fosse
a mãe que eu quero,
a mãe que eu tinha,
não havia no mundo outra mais bela.
Num banco de jardim uma velhinha
faz desenhos nas pedrinhas
que, afinal, são como eu.
Sabe que as dores que tem também são minhas,
são moinhas do filho a desbravar que Deus lhe deu.
E, em volta do seu banco, os
malmequeres e as andorinhas
provam que a minha mãe nunca morreu.

Ary dos Santos

quinta-feira, 26 de março de 2009


Largo das Oliveiras - Porto


O Jacarandá Florido

Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia

O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava


Matilde Rosa Araújo